A Ascensão dos Tesouros Cripto: Como Uma Aposta Provocou uma Mudança Corporativa
A movimentação de Michael Saylor em 2020 transformou dinheiro ocioso em cripto. Agora, empresas de setores que vão da saúde à tecnologia estão seguindo esse roteiro, com resultados variados.

O que saber:
- Em 2020, a decisão de Michael Saylor de investir as reservas de caixa da MicroStrategy em bitcoin marcou uma mudança significativa nas estratégias de tesouraria corporativa.
- A aprovação dos ETFs de bitcoin e ether em 2024 impulsionou o interesse institucional em ativos digitais, levando outras empresas a adotarem estratégias similares.
- Enquanto algumas empresas como a Strategy registraram ganhos significativos, outras enfrentaram desafios, evidenciando a volatilidade e o risco associados aos investimentos em criptomoedas.
No verão de 2020, Michael Saylor — então CEO da empresa que, na época, se chamava MicroStrategy (MSTR) — tomou uma decisão que revolucionaria a estratégia financeira de sua companhia de capital aberto e que reverberaria nas salas de diretoria corporativas por anos a fio.
Inicialmente criada como uma empresa de software de inteligência de negócios, a companhia agora conhecida como Strategy detinha mais de US$ 500 milhões em caixa. Mas Saylor não via esse dinheiro como um colchão, e sim como um bloco de gelo derretendo. Com a inflação em alta e as taxas de juros próximas de zero, manter dólares parecia mais arriscado do que nunca.
Em vez de aplicar esse dinheiro em títulos ou recompra de ações, Saylor apostou tudo no bitcoin
Esse roteiro ganhou novo impulso em 2024, quando Wall Street finalmente abriu as portas para o investimento mainstream em criptomoedas. Após anos de idas e vindas com os reguladores, a SEC aprovou os fundos negociados em bolsa (ETFs) de bitcoin à vista em janeiro, seguidos pelos ETFs de ether
Também em maio, a fabricante de dispositivos médicos de capital aberto Semler Scientific anunciou que havia adquirido bitcoin como parte de uma nova estratégia de tesouraria corporativa modelo diretamente baseada na da Strategy. A decisão foi uma surpresa vindo de uma empresa de saúde sem vínculos com ativos digitais, mas o presidente da companhia, Eric Semler, era um observador de longa data do ecossistema cripto, e a empresa afirmou que o potencial de longo prazo do ativo o tornava um lugar mais inteligente para capital ocioso do que o fiat. Outras empresas seguiram o exemplo, com pequenas empresas de tecnologia e até fabricantes não tecnológicos divulgando posições em ativos digitais em seus relatórios de resultados.
A Strategy — agora rebatizada como uma empresa de desenvolvimento de bitcoin (com Saylor atuando como seu presidente executivo) — viu suas ações dispararem mais de 350% em 2024, à medida que a demanda por bitcoin disparou. Após sobreviver a um 2022 difícil, quando o bitcoin caiu para a faixa dos 15.000 dólares, a aposta inicial de Saylor e da Strategy deu certo.
Mas nem todos que adotaram a estratégia viram resultados duradouros. Por exemplo, a Semler Scientific, apesar do entusiasmo inicial dos investidores e da acumulação de mais de 5.000 bitcoins, viu suas ações despencarem 54% neste ano, agora situando-se abaixo do nível em que estavam antes da empresa adquirir bitcoins. Em setembro, ela concordaram em fundir com outra empresa de tesouraria de bitcoin em dificuldades, Strive (ASST), mas as ações de ambas caíram ainda mais.
Spread para altcoins
Observando o sucesso de Saylor, a atenção ampliou-se além do bitcoin. O Ether foi o primeiro, com Joe Lubin e Tom Lee liderando empresas dedicadas à acumulação de tokens ETH. A especulação sobre futuros ETFs de altcoins — incluindo Solana, XRP e outros — despertou ainda mais interesse na diversificação dos tesouros corporativos de criptomoedas. Algumas empresas, buscando se diferenciar ou alinhar-se com redes emergentes, começaram a acumular outros tokens. A Trident Digital, negociada na Nasdaq, por exemplo, adicionou XRP ao seu tesouro em junho de 2025.
A estratégia, no entanto, também foi explorado. Uma enxurrada de penny stocks e empresas microcap obscuras começou a usar o bitcoin como ferramenta de manchete, não como uma tese de investimento. Essas empresas não tinham exposição real a ativos digitais como negócio — sem equipamentos de mineração, sem produtos blockchain. Mas elas viram o que aconteceu com as ações da Strategy e tentaram replicar. A fórmula tornou-se familiar: emitir um comunicado anunciando uma mudança para o universo cripto, divulgar uma pequena compra de bitcoin ou solana e observar a ação subir brevemente. Em muitos casos, funcionou — por um ou dois dias.
Em meio ao colapso dos preços das ações, algumas tesourarias corporativas foram forçadas a alterar partes de sua estratégia — chegando até mesmo a vender criptoativos para levantar caixa destinado à recompra de ações. A ETHZilla (ETHZ), focada em Ethereum e anteriormente elogiada por construir uma tesouraria corporativa baseada em ether, divulgou na semana passada que vendeu aproximadamente US$ 40 milhões em ETH de suas reservas. A empresa utilizou parte do caixa para recomprar suas próprias ações, já que o valor de mercado da companhia caiu abaixo do valor de seus ativos em criptomoedas e comprometeu-se a continuar as recompras, se necessário. É um lembrete de que as oscilações de preço podem agir em ambos os sentidos, mesmo para empresas que detêm aquilo que consideram “ativos reais.”
Ainda assim, para todas as empresas que tentaram, nenhuma igualou o que a Strategy fez. Seu balanço agora detém mais de 641.000 BTC – 3% do fornecimento total. Michael Saylor, outrora um executivo de software empresarial de nicho, é agora um dos defensores mais reconhecidos do bitcoin. E embora muitos outros CEOs tenham experimentado a abordagem do tesouro com ativos digitais, nenhum conquistou o mesmo nível de credibilidade.
Se a estratégia se tornará um marco das finanças modernas ou desaparecerá como uma bolha especulativa ainda não está claro. Por enquanto, é o jogo de Michael Saylor — todos os outros estão apenas tentando jogá-lo.
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