Dólar atinge maior valor desde março de 2021
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Uma entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta terça-feira (29), acabou gerando uma forte repercussão no mercado. Afinal, ela provocou uma elevação de 0,92% na cotação da moeda americana. O dólar fechou a R$ 5,761 na terça, seu maior valor desde 29 de março de 2021.
Além disso, a máxima do dia foi de R$ 5,7666. Aliás, esse foi o maior valor desde maio de 2020. Já o dólar turismo fechou o dia sendo vendido a R$ 5,97. O resultado foi uma alta de +0,99% na semana, além de um avanço de 5,77% no mês e de +18,72% no ano.
Por fim, a B3 teve bastante oscilação desde sua abertura, e passou a cair no início da tarde. Ela fechou o dia em queda. O Ibovespa terminou o dia em baixa de -0,37%, chegando aos 130.729 pontos.
Mercado reage a incertezas sobre situação fiscal
Esses números são uma resposta do mercado à fala de Haddad. Afinal, ele transpareceu que ainda existem muitas incertezas em relação ao orçamento do governo federal a partir de agora.
Em sua entrevista, Haddad afirmou que a área econômica do governo ainda está analisando o pacote de contenção de gastos a ser apresentado. Além disso, disse:
“Não tem uma data ainda e eu não chamaria de pacote.”
O ministro informou que terá uma série de reuniões com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo desta semana. Afinal, Lula teria pedido mais informações sobre as propostas, e a Fazenda está reunindo esses dados. Segundo Haddad:
“Não tem uma data, ele que vai definir. Mas a gente está avançando a conversa, estamos falando muito com o Planejamento também.”
Agentes esperam anúncio de pacote
Nas semanas anteriores, o ministro já havia sinalizado que sua equipe poderia lançar novas medidas para a redução dos gastos públicos após as eleições municipais.
Por isso, o mercado esperava um pacote fiscal com cortes de até R$ 60 bilhões. Afinal, isso ajudaria o governo a passar uma maior credibilidade.
Aliás, quando questionado se as medidas chegariam a cortes entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões, Haddad respondeu que não sabe “de onde saiu esse número”. Segundo agentes financeiros, para que o pacote do governo tenha credibilidade, teria que indicar cortes entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões.
No entanto, segundo especialistas, é justamente a falta de divulgação sobre os cortes de despesas por parte do governo que vem estressando o mercado.
Especialistas citam também o fluxo negativo de capital saindo do país nesta terça. Mas o que mais colaborou para a alta do dólar foi mesmo a falta de uma data específica para o pacote de cortes.
Além disso, o tema tem sido citado pelo Banco Central (BC) como um fator relevante para a política monetária. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, já havia falado sobre isso na segunda-feira.
Em reunião com investidores no Deutsche Bank, em Londres, Campos Neto tocou no assunto. Ele disse que, se o Brasil quiser ter juros estruturalmente mais baixos, precisa apresentar medidas que sejam vistas como um choque fiscal positivo.
Balança comercial é outro indicador interno negativo
Ainda no cenário interno, os resultados da balança comercial no mês de setembro frustraram as expectativas do mercado. Afinal, os dados do BC mostram que, já considerando o resultado de setembro, o déficit em 12 meses em transações correntes equivale a 2,07% do PIB. No mesmo mês do ano passado, houve um superávit de US$ 268 milhões.
O superávit da balança comercial em setembro foi de US$ 4,81 bilhões, o que representa uma queda em comparação aos US$ 8,48 bilhões no mesmo mês de 2023. Por fim, o rombo na conta de serviços fechou em US$ 4,98 bilhões, acima dos US$ 3,45 bilhões de setembro do ano passado.
Dólar também sobe em outros países
Apesar de todos esses dados do cenário interno, o dólar também está em tendência de alta globalmente. Afinal, devido à campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos, cada vez mais acirrada, a moeda americana tem subido no mundo todo.
Aliás, o que vem ocorrendo é o chamado “Trump Trade”. Ou seja, as negociações já se baseiam nas chances de Trump ganhar a eleição.
Esse fator puxa a divisa para cima. Afinal, a proposta de política econômica do candidato republicano é considerada inflacionária pelos especialistas.
Portanto, se Trump vencer o pleito, os juros americanos podem voltar a subir, fazendo com que os investimentos em renda fixa nos EUA remunerem melhor.
Isso levaria muitos investidores internacionais a migrarem para o mercado americano. E, para isso, eles precisam comprar dólares, o que faz com que a cotação da moeda suba em outros países.
Além disso, ocorreu nesta terça-feira a divulgação do relatório Jolts, do Departamento do Trabalho dos EUA. Segundo os dados, o total de postos de trabalho abertos no país caiu para 7,443 milhões.
Em agosto, os analistas previam uma abertura de 7,95 milhões de postos de trabalho. Portanto, os dados mostram que a economia americana segue aquecida, mas desacelerou sua recuperação. Isso pode levar o Federal Reserve (FED, o banco central dos Estados Unidos) a fazer cortes de juros menores.
Aliás, quanto menos caírem os juros por lá, pior para a bolsa brasileira. Afinal, os investidores vão continuar preferindo aproveitar as altas taxas da renda fixa dos EUA, em vez de assumirem um risco maior aqui.
Petrobras colaborou para queda da bolsa
Outro motivo para o resultado negativo da bolsa no Brasil foi a queda da produção da Petrobras (PETR3 e PETR4). Entre julho e setembro, a empresa registrou uma diminuição de -8,2% no volume de produção, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Segundo informou a companhia na segunda-feira (28), as razões para essa queda incluem operações de manutenção e um declínio em campos maduros.
Neste terceiro trimestre, a Petrobras produziu uma média de 2,13 milhões de barris de petróleo por dia no Brasil. Por outro lado, no mesmo trimestre do ano passado, a produção havia sido de 2,32 milhões.
Além disso, nesta terça-feira (29), as cotações internacionais do petróleo encerraram em uma leve baixa de 0,42% (Brent) e de 0,25% (WTI).
Com isso, as ações da Petrobras tiveram uma queda. A PETR3 desvalorizou -0,28% e chegou a R$ 39,21. Já a PETR4 caiu -0,33%, atingindo R$ 35,97.
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