Stablecoins atreladas ao euro podem quebrar monopólio do dólar no mercado cripto

A Europa precisa agir para defender sua soberania monetária, criando stablecoins atreladas ao euro.
Caso contrário, corre o risco de entregar o controle financeiro digital aos Estados Unidos.
Um alto funcionário da União Europeia pediu a criação de stablecoins lastreadas em euro para desafiar a supremacia dos tokens atrelados ao dólar no mercado global de criptoativos.
Pierre Gramegna, diretor-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade, afirmou que a Europa precisa acelerar seus esforços para emitir stablecoins locais e, assim, reforçar sua soberania financeira digital.
‘A Europa não pode depender de stablecoins denominadas em dólar, que hoje dominam os mercados’, disse Gramegna durante uma audiência na quinta-feira (09/10) sobre as perspectivas econômicas da zona do euro, que incluiu debates sobre ativos digitais.
Ele completou dizendo que ‘as stablecoins são parte inevitável dessa equação. Num cenário financeiro em rápida evolução, a Europa deve fazer o possível para facilitar a emissão de stablecoins denominadas em euro por emissores locais’.
Euro digital pode ganhar força no mercado cripto
As declarações de Gramegna surgem em meio a preocupações crescentes de que os EUA estão assumindo a dianteira no setor de moedas digitais.
Isso aconteceu após a aprovação do GENIUS Act no início de 2025, que impulsionou o crescimento de stablecoins como USDC e USDT.
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Agora, as autoridades europeias temem que depender de tokens emitidos nos EUA possa enfraquecer o controle da UE sobre seu sistema financeiro e infraestrutura de pagamentos.
Moeda representa inovação financeira
Paschal Donohoe, presidente do Eurogrupo, apoiou a posição de Gramegna sobre inovação financeira.
No entanto, ele lembrou que o projeto do euro digital do Banco Central Europeu (BCE) também pode modernizar os pagamentos.
‘O euro digital ainda pode ser positivo para o comércio na região’, afirmou Donohoe.
O projeto já ganhou tração. Segundo Piero Cipollone, membro do conselho executivo do BCE, o euro digital pode chegar ao mercado até 2029, à medida que as conversas entre os estados-membros avançam.
Ele descreveu as negociações recentes como um ‘grande avanço’.
Isso aconteceu depois que os ministros de finanças da zona do euro chegaram a um consenso sobre limites de saldo por cliente para proteger os depósitos bancários.
Cipollone disse que, até maio de 2026, o Parlamento Europeu deve ter uma posição sobre o arcabouço legal do projeto, após um relatório de progresso em outubro e várias rodadas de negociações.
Desse modo, os estados-membros também devem chegar a um acordo geral até o fim deste ano.
O euro digital busca reduzir a dependência da Europa de empresas privadas de pagamento, como Visa e PayPal. Além disso, limita a influência das stablecoins atreladas ao dólar na região.
No entanto, várias questões técnicas e políticas continuam em aberto.
E isso inclui garantias de privacidade, coexistência com os bancos e se a moeda deve ou não operar em uma blockchain pública, como Ethereum ou Solana.
Defensores acreditam que stablecoins com euro e um euro digital podem fortalecer a competitividade da Europa no setor financeiro global.
Contudo, céticos alertam que atrasos na regulação podem deixar a região ainda mais atrás dos EUA na disputa pelos pagamentos digitais.
Europa intensifica esforços para reduzir domínio do dólar
Autoridades europeias e instituições financeiras estão acelerando iniciativas para desenvolver stablecoins com euro.
A iniciativa almeja reduzir a dependência dos tokens atrelados ao dólar.
Em julho, Jürgen Schaaf, conselheiro do BCE, pediu mais coordenação global na regulação de stablecoins.
Ele alertou que a diferença entre os marcos regulatórios dos EUA e da UE pode reforçar a supremacia do dólar.
Em artigo no site do BCE, Schaaf defendeu ‘stablecoins atreladas ao euro devidamente reguladas’ para fortalecer a soberania monetária da Europa com salvaguardas robustas.
Ele destacou que o GENIUS Act dos EUA, sancionado em julho, está ‘amplamente alinhado’ ao regulamento europeu MiCA, embora seja menos rígido em alguns pontos.
Schaaf defendeu padrões globais para evitar fragmentação de mercado e arbitragem regulatória.
As observações dele seguem preocupações já levantadas pelo governador do Banco da Itália, Fabio Panetta, sobre a adoção limitada de stablecoins atreladas ao euro, mesmo após o MiCA.
Panetta afirmou que o euro digital pode preencher essa lacuna. Enquanto isso, Schaaf destacou que inovação privada e tecnologia de registros distribuídos (DLT) devem complementar iniciativas públicas.
Euro digital do BCE
O BCE já aprovou dois projetos-piloto de DLT, o Pontes e a Appia, para melhorar pagamentos grossistas e internacionais.
Ao mesmo tempo, nove dos maiores bancos europeus, incluindo ING, UniCredit, CaixaBank e Danske Bank, anunciaram planos para lançar uma stablecoin com euro em 2026.
Dessa forma, o consórcio buscará licenciamento sob o MiCA e promete transações internacionais mais rápidas, baratas e disponíveis 24/7.
Agora, a iniciativa reforça a determinação da Europa em reduzir a dependência das stablecoins dos EUA, que representam cerca de 99% da oferta global.
Dados do BCE mostram que os tokens lastreados em euro ainda estão abaixo de € 350 milhões em circulação.
Ou seja, um abismo que reguladores e bancos europeus agora querem fechar.
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